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Fisioterapeuta: profissão ganha destaque na pandemia

Com um trabalho relevante no processo de recuperação de pacientes infectados com coronavírus, sobretudo dos que tiveram casos mais graves de Covid-19, os profissionais da fisioterapia estão cada vez mais inseridos no atendimento daqueles que sofrem com as sequelas e consequências da doença. A observação é do médico especialista em cardiologia, clínica médica e emergências clínicas pela Unesp e pelo Instituto de Cardiologia do Distrito Federal, Dr. Fabricio da Silva.

Segundo o especialista, o fisioterapeuta desempenha um papel essencial quando o assunto é Covid-19, já que o paciente perde condicionamento físico, capacidade de oxigenação, além de ficar com o organismo inflamado. “ O paciente perde muita massa muscular, perde peso por inflamação de músculos e isso acaba descondicionando, ou seja, há dificuldade para se fazer qualquer esforço físico. A sua demanda de energia, seu gasto energético é muito maior”, pontua.  

Em entrevista exclusiva concedida ao portal Brasil61.com, o especialista também destacou a importância do paciente com Covid-19 voltar a ser visto pelos profissionais de saúde para uma reavaliação a partir dos primeiros dias após uma semana do surgimento dos sintomas.  Segundo ele, a eficiência dos resultados depende de um trabalho em conjunto de cada especialidade”, disse.

“O acompanhamento do fisioterapeuta com a terapia não invasiva, ventilação não invasiva adequada, escolha do dispositivo de oxigenação, manejo adequado do respirador, tudo isso é um trabalho em conjunto da equipe médica com a fisioterapia, que muda completamente o desfecho da doença”, considera.

“Cada vez mais temos a consciência de que o tratamento multiprofissional na Covid-19 ou qualquer doença grave é fundamental. Isso é medicina moderna, isso é cuidar de saúde moderna.”

Dr. Fabricio da Silva, especialista em cardiologia, clínica médica e emergências clínicas pela Unesp

Para o diretor do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), Abidiel Pereira Dias, a atuação dos profissionais da área não se limita apenas ao atendimento do paciente no pós-internação. Além disso, a assistência é oferecida desde os casos mais simples aos mais graves.

“Além da parte respiratória, surge também um grupo de sequelas de ordem motora. Nesse segmento, a fisioterapia demonstrou crescimento exponencial na área da fisioterapia domiciliar. Vale destacar também a participação da equipe interdisciplinar em todas essas etapas”, afirmou o especialista em fisioterapia desportiva e cardiovascular.

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Profissionais da ponta

Abidiel Pereira Dias ressalta ainda, que, inicialmente, os pacientes precisam estar atentos aos sinais respiratórios quando há suspeita de Covid-19. Nesse momento, os fisioterapeutas podem ser consultados para recomendar atividades ou repassar outras orientações.

“O paciente que apresenta alteração no seu ritmo respiratório, na frequência, um déficit ou diminuição da saturação parcial de oxigênio já deve ser monitorado e acompanhado pelo fisioterapeuta. Obviamente que, a partir desse quadro, poderão advir outras situações, como motoras. Mas, predominantemente, os sinais que requerem a participação da fisioterapia são de cunho respiratório”, salienta.

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O presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Rio de Janeiro (Crefito-2), Wilen Heil e Silva, lembra que o fisioterapeuta é um profissional de primeiro contato e está inserido na atenção primária, nas clínicas da família, nos serviços de atenção domiciliar, em postos de saúde e serviços ambulatoriais.

“Isso facilita o acesso da população ao profissional, que aos sinais de resfriado, tosse ou febre, deverá imediatamente informar ao fisioterapeuta para que este possa realizar as orientações clínicas recomendadas, inclusive a realização do teste para Covid-19 e os cuidados de medidas sanitárias como uso de máscara e isolamento social, até o resultado do exame”, afirma.

“Sabe-se que hoje não é recomendado sentir-se cansado ou com falta de ar para procurar um profissional, pois quanto mais precoce o diagnóstico, mais cedo se inicia os cuidados”, complementa.

Força e massa muscular

Pacientes com Covid-19 que têm mais força e massa muscular tendem a permanecer menos tempo internados em decorrência da doença. É o que aponta um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa levou em conta o resultado observado em 186 indivíduos hospitalizados com Covid-19 moderada ou grave.

Autor do estudo, o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, Hamilton Roschel, explica que a pesquisa sugere que esses indicadores podem, portanto, ajudar a prever o tempo de internação pela enfermidade.

“Sabemos que o próprio período de hospitalização vai implicar em uma deterioração da saúde muscular do indivíduo. Ele vai perder muita força e muita massa muscular. Isso vai comprometer o processo de reabilitação desse paciente. Então, você ter uma reserva funcional é importante para te auxiliar no processo de recuperação”, destaca.

Os músculos que ajudam na respiração também são importantes nesse quadro. Diante desse contexto, o Conselho Regional de Fisioterapia Terapia Ocupacional do DF e de Goiás (Crefito-11) respondeu, por meio de nota, que “pacientes admitidos na UTI são propensos a redução da força muscular por imobilidade, e a associação da fisioterapia motora e respiratória auxilia a minimizar as sequelas deixadas pela Covid-19.”

“Os principais sintomas são dificuldade em respirar ou falta de ar, dor ou pressão no peito, saturação menor que 93% (SaO2 < 93%), febre, recomenda-se a procura de um profissional da saúde imediatamente."

Rejane de Souza Passos, fisioterapeuta do Crefito 11

Wilen Heil e Silva, do Crefito-2 (RJ), lembra que o sistema respiratório está diretamente ligado às condições musculares. Logo, inicialmente, o profissional fisioterapeuta precisa olhar os dois grupos, indistintamente. “Na verdade, essa divisão não existe, pois as condições respiratórias também envolvem músculos, inclusive o diafragma como o principal músculo responsável pelo ato respiratório, e outros que de forma acessória auxiliam também na respiração”, avalia.

O presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Rio Grande do Sul (Crefito-5), Jadir Camargo, afirma que a função da fisioterapia no contexto da Covid-19 ajuda na parte pulmonar, com a higienização brônquica, assim como por meio de uma ventilação mais adequada, que auxilia no preparo e restauração da musculatura respiratória.

“É ela quem vai acionar, pela caixa torácica, a ventilação do paciente. Uma possibilidade de uma musculatura mais eficiente dá melhores condições respiratórias ao paciente. Tudo está interligado”, destaca.

Ainda de acordo com Camargo, os fisioterapeutas costumam atuar do início dos sintomas até a alta hospitalar, pois existe a possibilidade de continuidade de um tratamento, dependendo das sequelas deixadas.

“Muitas vezes, essa dependência do tratamento com o fisioterapeuta pode se prolongar por meses. Ainda estamos avaliando a situação, considerando que, neste um ano e meio de pandemia, muitos pacientes, após a alta hospitalar, ficam sob assistência do fisioterapeuta por cerca de 8 meses. Mas, tudo depende da condição de cada um”, pontua.

De acordo com dados de vagas da Catho, a busca por profissionais da saúde aumentou até 725% em 2020, na comparação com 2019. Entre os profissionais, o destaque foi para o fisioterapeuta. No ano passado, a procura por fisioterapeuta hospitalar e respiratório subiu 725% e 716%, respectivamente. Além disso, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, do início de 2020, a terapia física e a terapia respiratória foram apontadas como carreiras promissoras no futuro.

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