Aproximadamente 1,5 milhão de brasileiros convivem com o vírus da hepatite B ou C. As infecções causadas pela enfermidade atingem principalmente o fígado e a maioria das pessoas não descobre de forma precoce. Em vista disso, o Ministério da Saúde lançou a Linha de Cuidado das Hepatites Virais no Adulto, uma plataforma online que auxilia gestores, profissionais de saúde e cidadãos.
Para organizar e padronizar os serviços oferecidos em todos os níveis de atenção no Sistema Único de Saúde (SUS), a plataforma pretende ajudar os gestores na implementação da Linha de Cuidado em cada município, que depende de fluxos e metas estabelecidas, de recursos disponíveis, da articulação dos setores, do envolvimento dos profissionais de saúde, da adequada gestão dos processos, além do constante monitoramento.
“O objetivo principal é orientar os gestores na elaboração e implementação de ações de prevenção, rastreio, diagnósticos, tratamento e o acompanhamento das pessoas nos territórios. Contribuindo, assim, no combate às hepatites virais”, completa Karen Tonini, consultora técnica da Coordenação Geral de Vigilância do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Se o município ou região já possui uma Linha de Cuidado para as hepatites B e C, a recomendação é avaliar a possibilidade de adequações com a linha de cuidado proposta nesta nova plataforma.
A ferramenta também detalha os Pontos Críticos que devem ser observados pelos gestores, tanto na Atenção Primária quanto na Especializada, para que todo o processo seja feito de forma integrada e com o objetivo estratégico comum, que visa reduzir a mortalidade atribuída às hepatites em mais de 75%, até 2030, meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No período de 2000 a 2018, de acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2020, as hepatites B e C responderam por cerca de 74% dos casos notificados. Só a hepatite C foi responsável por mais de 76% das mortes por hepatites virais no país.
Para o profissional da saúde, a plataforma pode ser acessada pelo computador, smartphone ou tablet durante uma consulta. Já para os cidadãos, o objetivo é dar mais autonomia, com acesso a informações sobre as doenças, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação disponíveis na rede pública e por onde iniciar o atendimento.
A ferramenta foi produzida pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde, em parceria com o Instituto para Avaliação de Tecnologia em Saúde (Iats), e com apoio da Secretaria de Vigilância Sanitária. A construção foi feita com base no levantamento de dados de protocolos, diretrizes e normas técnicas previamente estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias de Saúde estaduais e municipais.
Panorama das hepatites no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, as hepatites mais comuns no Brasil são causadas pelos vírus A, B e C, e são conhecidas como hepatites virais. Ainda existem os vírus das hepatites D, que é mais comum na região Norte, e da hepatite E, que é menos frequente no país.
“A hepatite A é mais comum em crianças, por conta da contaminação, e normalmente é mais suave. Hepatites B e C, já são de transmissão por relação sexual ou por sangue, e são muito comuns. Já as hepatites D e E, são um pouco menos graves que a B e C. Vale lembrar que todas elas podem ser silenciosas, sem sintoma nenhum”, explica o Dr. Carlos Machado, especialista em medicina preventiva.
Confira as causas de cada hepatite:
- Hepatite A: tem o maior número de casos, está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene. É uma infecção leve e se cura sozinha.
- Hepatite B: é o segundo tipo com maior incidência e a transmissão é por via sexual e contato sanguíneo. A melhor forma de prevenção é a vacina, associada ao uso do preservativo.
- Hepatite C: tem como principal forma de transmissão o contato com sangue. É a principal causa de transplantes de fígado. A doença pode causar cirrose, câncer de fígado e morte. Não tem vacina.
- Hepatite D: ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B, assim, a vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.
- Hepatite E: transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), provocando grandes epidemias em certas regiões. Não se torna crônica, porém, se infectadas, mulheres grávidas podem apresentar formas mais graves da doença.
Entre as capitais, Boa Vista, em Roraima, foi a que apresentou taxa de detecção da hepatite B superior à do país, que é de 2,9 casos por 100 mil habitantes, com taxa de 15,7 casos, de acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais.
Em relação a hepatite C, Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, é a que apresentou taxas superiores à nacional, de 4,4 casos por 100 mil habitantes, com taxa de 47,2 casos. O coordenador do programa Hepatites Virais da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Eduardo Emerim, conta que os órgãos de saúde do município já estão atuando para reverter o quadro.
“Nós lançamos, esse ano, a campanha de eliminação [das hepatites virais] em Porto Alegre, não são todas as capitais que já fizeram isso. A estratégia é chegar em populações chaves e prioritárias, como a população privada de liberdade, inclusive já estamos fazendo um projeto nos presídios de Porto Alegre. Estamos fazendo também um modelo baseado no ‘Test and Treat’, do sistema de saúde de Londres, e a ideia é que uma vez feito o diagnóstico, o paciente receba em no máximo um mês a medicação. O nosso objetivo é traçar metas baseadas em números de pessoas colocadas em tratamento, não somente testadas”, esclarece.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), cerca de 1 milhão de pessoas morrem por ano no mundo em decorrência das hepatites virais, com 3 milhões de novos infectados ao ano. No Brasil, a estimativa é que mais de 450 mil pessoas estão infectadas pelo vírus da hepatite C e cerca de 1,1 milhão têm hepatite B e, possivelmente, não sabem.
Prevenção
O mecanismo mais eficiente para diminuir a mortalidade associada à hepatite C é por meio da testagem, principalmente na faixa da população acima de 40 anos de idade. Para fazer o teste gratuitamente, basta procurar uma unidade básica de saúde da rede pública ou os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Para a hepatite B, há vacinas disponíveis no calendário nacional de vacinação desde 1996 e são aplicadas pelo SUS.
Para o Dr. Carlos Machado, manter uma boa higiene também pode ajudar na prevenção da doença, principalmente da hepatite A, mas o atendimento médico é indispensável para o diagnóstico correto.
“Todo sintoma, todo aviso de que tem alguma coisa errada é importante ir ao médico, pois ele está capacitado para fazer o diagnóstico e, na suspeita de uma hepatite, ele vai pedir o exame de sangue para definir qual é o tipo. Todas as hepatites precisam ser muito bem tratadas, pois elas podem evoluir para complicações no fígado, [como] uma cirrose hepática ou falência do fígado no futuro”, ressalta.
O quadro da doença pode agravar a ponto de evoluir para câncer, muitas vezes com a necessidade de transplante de fígado. Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país que mais realiza a operação globalmente, com 100% dos procedimentos cobertos pelo SUS.
Em 2019, foi instituído por lei (13.802/2019) o Julho Amarelo, que é realizado todo ano e é quando são feitas ações relacionadas à luta contra as hepatites virais pelas autoridades de Saúde do país.
Para mais detalhes sobre sintomas, transmissão e tratamento das hepatites no Brasil, acesse a plataforma, na aba “Sou Paciente”.
]]> Brasil 61